Este conto foi-me enviado pela própria autora, Lucinda Prado, que, a exemplo do conto anterior, publico para compartilhar essa maravilha com vocês.
Aproveitem e deleitem-se.
Ela não sabia como chegara naquela cidade fantasma. Cidade, essa, que um dia estava repleta de vida, mas agora, quanta desolação, quanto abandono.
Ela caminha no seu andar pesado, cansado, sofrido, quase sem forças para se arrastar pelas ruas abandonadas. Uma força a arrasta para frente de um casarão abandonado, sem a exuberância de outrora. Os jardins em matagais, com seus bancos em desmoronamento. Não se ouve mais o canto da passarada, nem tão pouco o riso distante de crianças, nem o latir do cão anunciando sua chegada.
Cansada e faminta ela empurra o velho portão, que parece gritar de dor, quando ela força uma passagem para adentrar no seu quintal. Ela se arrasta para a sombra de uns arvoredos que insistem em permanecer em pé, alheios a desolação do ambiente. Deixa-se escorregar em suas sombras, uma espécie de desmaio a faz cair fatigada e esgotada de tanta dor.
Cerra os olhos e parece sonhar com tempos onde o conforto de uma riqueza milenar lhe propiciava todos os tipos de desejos.
Aos poucos vai sendo tomada por lembranças de uma vida que perdera não sabia por quê.
-Por onde andará todos que aqui viviam? Ela se pergunta.
Aos poucos vem à lembrança de um mendigo que a abordará em uma manhã primaveril, ele vinha em busca de água e pão. Ele disse que já fazia dois dias que não comia e apenas queria saciar um pouco a fome. Ela o olha com seu olhar duro de soberba e o expulsa aos gritos, chama-o de vagabundo e imprestável. Mas agora ela se recorda do olhar daquele mendigo, parecendo lhe espreitar a alma negra pelo egoísmo. Ele sai com seu andar incerto e a olha uma vez mais, uma lagrima de humilhação teima em escorrer de seus olhos murchos. Ele se vai se disser uma palavra, apenas a tinha olhado.
Agora vem a lembrança de seu jardineiro, Tomás - Sim este era o nome dele.
Tomás havia servido sua família desde criança e mesmo assim ela não se recorda de nenhum gesto de agradecimento que ela pudesse ter tido para com ele. Tomás, como jardineiro da casa, cuidou de seus jardins e do pomar sempre com carinho e dedicação. Recorda-se apenas de sua irritação por ele teimar em conversar com Ana, sua filha mais jovem e das flores que ele sempre deixava em sua saleta preferida.
Ali, semi adormecida, essas recordações parecem tão distantes de sua realidade do momento e imagina que está num delírio louco, desses que a tem assaltado constantemente nos últimos tempos.
Porque todos se foram, deixando-a ali abandonada e só?
Filhos, tivera dois. Seu marido morrera cedo deixando a família com uma fortuna imensa e sólida.
Rogério o filho mais velho, nunca tomou conhecimento dos negócios da família. Vivia nas noitadas e não media seus gastos financeiros, nem físicos. Era dado a brigas e disputas por jogatinas e mulheres, no que era sempre apoiado por ela, sua mãe. Um dia ele foi encontrado jogado em uma vala, haviam-lhe levado tudo, inclusive as roupas e a vida.
Amália - ela recorda que este é seu nome - quase morreu de desgosto e uma tristeza permanente passou a fazer parte de seus dias. Parecia que a vida dela havia acabado junto com a vida de seu primogênito. Depois da morte de Rogério seu coração dantes tão endurecido se transformou em pedra bruta. Esqueceu-se da filha Ana. Já não sentia mais vontade de rever seus ricos amigos e nem tão pouco se preocupava com os cuidados que uma casa requer de sua dona. Parecia uma árvore seca, com suas vestes negras, a vagar pelos corredores do casarão.
Em vão sua filha Ana tentava fazer com que a mãe voltasse à vida dantes, e nesses momentos, Amália se recorda, que sempre parecia se tomar de um ódio profundo por Ana e a expulsava aos gritos de sua presença. Ana ainda era uma criança, tinha apenas 14 anos.
Amália passou a nutrir pela filha uma espécie de animosidade cruel, a espancava com frequência, fazendo seu corpo juvenil sangrar de tantas pancadas e todas as maldades possíveis. Um dia quando ela a estava espancando, Tomás, o jardineiro, adentra o ressinto e implora para ela que pare, pois assim, mataria a menina. Ela se volta contra ele, brandindo o chicote e passa a lhe dar golpes certeiros. Cega de raiva e loucura corre em sua direção, se apossa de uma estátua que esta sobre o aparador e num gesto violento lhe golpeia a cabeça fazendo com que Tomás caia sem vida. Ana tenta se arrastar até eles e da mesma forma recebe golpes e mais golpes fazendo-a cair inerte ao lado do seu fiel escudeiro.
Suas recordações a faz despertar e num rompante de dor e remorso ela chora em desespero, grita sua dor, sua solidão. Corre tresloucada pelo jardim abandonado e perseguida pelas imagens de suas maldades, cai desmaiada pelo esgotamento daquelas recordações.
Aos poucos ela vai abrindo os olhos e parece ouvir ao longe o latir de um cão- sim era o latido de seu cachorro, o duque. Sente sua presença ao seu lado, ouve sua respiração acelerada e sente também um perfume adocicado e suave. Ouve passos leves e uma voz a lhe chamar:
– mãezinha! Nós viemos te acolher. Abra seus olhos, nós viemos te ajudar – nada mais importa, senão, os laços que nos uni. Queremos te ensinar a nos amar, também. Veja quem veio comigo, não mais importa as condições impostas pelas hierarquias sociais. Você já pode declarar seu amor por ele. Veja quem veio comigo, mãezinha... É Tomás, meu querido pai.
Ela caminha no seu andar pesado, cansado, sofrido, quase sem forças para se arrastar pelas ruas abandonadas. Uma força a arrasta para frente de um casarão abandonado, sem a exuberância de outrora. Os jardins em matagais, com seus bancos em desmoronamento. Não se ouve mais o canto da passarada, nem tão pouco o riso distante de crianças, nem o latir do cão anunciando sua chegada.
Cansada e faminta ela empurra o velho portão, que parece gritar de dor, quando ela força uma passagem para adentrar no seu quintal. Ela se arrasta para a sombra de uns arvoredos que insistem em permanecer em pé, alheios a desolação do ambiente. Deixa-se escorregar em suas sombras, uma espécie de desmaio a faz cair fatigada e esgotada de tanta dor.
Cerra os olhos e parece sonhar com tempos onde o conforto de uma riqueza milenar lhe propiciava todos os tipos de desejos.
Aos poucos vai sendo tomada por lembranças de uma vida que perdera não sabia por quê.
-Por onde andará todos que aqui viviam? Ela se pergunta.
Aos poucos vem à lembrança de um mendigo que a abordará em uma manhã primaveril, ele vinha em busca de água e pão. Ele disse que já fazia dois dias que não comia e apenas queria saciar um pouco a fome. Ela o olha com seu olhar duro de soberba e o expulsa aos gritos, chama-o de vagabundo e imprestável. Mas agora ela se recorda do olhar daquele mendigo, parecendo lhe espreitar a alma negra pelo egoísmo. Ele sai com seu andar incerto e a olha uma vez mais, uma lagrima de humilhação teima em escorrer de seus olhos murchos. Ele se vai se disser uma palavra, apenas a tinha olhado.
Agora vem a lembrança de seu jardineiro, Tomás - Sim este era o nome dele.
Tomás havia servido sua família desde criança e mesmo assim ela não se recorda de nenhum gesto de agradecimento que ela pudesse ter tido para com ele. Tomás, como jardineiro da casa, cuidou de seus jardins e do pomar sempre com carinho e dedicação. Recorda-se apenas de sua irritação por ele teimar em conversar com Ana, sua filha mais jovem e das flores que ele sempre deixava em sua saleta preferida.
Ali, semi adormecida, essas recordações parecem tão distantes de sua realidade do momento e imagina que está num delírio louco, desses que a tem assaltado constantemente nos últimos tempos.
Porque todos se foram, deixando-a ali abandonada e só?
Filhos, tivera dois. Seu marido morrera cedo deixando a família com uma fortuna imensa e sólida.
Rogério o filho mais velho, nunca tomou conhecimento dos negócios da família. Vivia nas noitadas e não media seus gastos financeiros, nem físicos. Era dado a brigas e disputas por jogatinas e mulheres, no que era sempre apoiado por ela, sua mãe. Um dia ele foi encontrado jogado em uma vala, haviam-lhe levado tudo, inclusive as roupas e a vida.
Amália - ela recorda que este é seu nome - quase morreu de desgosto e uma tristeza permanente passou a fazer parte de seus dias. Parecia que a vida dela havia acabado junto com a vida de seu primogênito. Depois da morte de Rogério seu coração dantes tão endurecido se transformou em pedra bruta. Esqueceu-se da filha Ana. Já não sentia mais vontade de rever seus ricos amigos e nem tão pouco se preocupava com os cuidados que uma casa requer de sua dona. Parecia uma árvore seca, com suas vestes negras, a vagar pelos corredores do casarão.
Em vão sua filha Ana tentava fazer com que a mãe voltasse à vida dantes, e nesses momentos, Amália se recorda, que sempre parecia se tomar de um ódio profundo por Ana e a expulsava aos gritos de sua presença. Ana ainda era uma criança, tinha apenas 14 anos.
Amália passou a nutrir pela filha uma espécie de animosidade cruel, a espancava com frequência, fazendo seu corpo juvenil sangrar de tantas pancadas e todas as maldades possíveis. Um dia quando ela a estava espancando, Tomás, o jardineiro, adentra o ressinto e implora para ela que pare, pois assim, mataria a menina. Ela se volta contra ele, brandindo o chicote e passa a lhe dar golpes certeiros. Cega de raiva e loucura corre em sua direção, se apossa de uma estátua que esta sobre o aparador e num gesto violento lhe golpeia a cabeça fazendo com que Tomás caia sem vida. Ana tenta se arrastar até eles e da mesma forma recebe golpes e mais golpes fazendo-a cair inerte ao lado do seu fiel escudeiro.
Suas recordações a faz despertar e num rompante de dor e remorso ela chora em desespero, grita sua dor, sua solidão. Corre tresloucada pelo jardim abandonado e perseguida pelas imagens de suas maldades, cai desmaiada pelo esgotamento daquelas recordações.
Aos poucos ela vai abrindo os olhos e parece ouvir ao longe o latir de um cão- sim era o latido de seu cachorro, o duque. Sente sua presença ao seu lado, ouve sua respiração acelerada e sente também um perfume adocicado e suave. Ouve passos leves e uma voz a lhe chamar:
– mãezinha! Nós viemos te acolher. Abra seus olhos, nós viemos te ajudar – nada mais importa, senão, os laços que nos uni. Queremos te ensinar a nos amar, também. Veja quem veio comigo, não mais importa as condições impostas pelas hierarquias sociais. Você já pode declarar seu amor por ele. Veja quem veio comigo, mãezinha... É Tomás, meu querido pai.
Comentários
Postar um comentário